domingo, 18 de setembro de 2016

mommy's blue

Hoje eu vim contar uma história
Não é uma história bonita
Não é uma história feliz
É a minha história (e da minha mãe)

Back to 1995, Janeiro, segunda-feira
Nasci
Chorei
Ela também chorou
Parei de chorar
Ela não

Eu tinha dois anos
Ela trabalhava a noite
Enquanto eu dormia
Dormia de dia
Enquanto eu vivia

A depressão, sempre ali, roubou minha mãe
E a de tantos outros que, como eu, não entendiam
Que ela dormia muito
Que ela não comia
E o problema, sou eu? E a solução?
Se eu me afastar, ela melhora?
Se ligar a luz do quarto?
Vinte e um anos depois, sei
O que eu vi foi homicídio
A depressão abraçando minha mãe
Engolindo
Sugando
Falando no ouvido "você não vale nada"
Ininterruptamente
Vinte e um anos, ainda sussurra

Cheguei à conclusão, muitos anos depois
Que eu não conheci minha mãe sem o monstro
Talvez tenha nascido junto comigo
Talvez

Com onze anos, o monstro estrangulou minha mãe
Separou a família
Possuíu tudo o que a gente tinha e, depois, foi embora
Foi a primeira vez que vi meu pai chorar
Duas vezes na clínica, nada de o monstro morrer
Várias vezes na clínica, mamãe não conseguia comer

Várias vezes eu pensei
É agora
Eu tô vendo ela ir embora, assim
E nunca consegui dizer "te amo"
Quando eu falava pra ela, via o monstro
Mas ela resistia
O monstro levou o estômago
A cor
O cabelo forte
Levou tudo e deixou a carcaça

E quando eu precisei de copo d'água
Quando tive pesadelo
Quando o primeiro menino me fez chorar
Mãe, tenho uma idéia!
Lembra daquele segredo nosso?

Nada, absolutamente nada disso
Terminou em conversa boa
Eu falava, trancava a garganta
Eu pisava, pisava em brasa

Depois de doze anos, não falei mais
Não pisei mais
Não pedi mais água
Apaguei a luz sozinha

A fenda aumentou
O monstro, também

Agora ele habita a carcaça
E deixou um pequeno monstro em mim
Que eu não deixei crescer
Mas habita
E cresce quando conversa com o dela

Escrevi hoje porque precisei da mãe
Encontrei ela
Mas conversei com o monstro



quarta-feira, 14 de setembro de 2016

15 dias

2190 dias.11878 km.

Eu, que não acredito em horóscopo, acabei de fazer seu mapa astral.Eu, que sempre quis te ver, já não quero mais.Eu, que vivi na dúvida, ganhei mais uma.Eu, que fui sozinha, sempre fui você, também.

Eu não vi a tempo.Você não viu a tempo.O mundo inteiro parou pra ver.

(mas não a tempo)

"you can't make homes out of human beings" warsan shire saidcorretíssimamas a gente fazmore than homes, we do castles instead

that fall.

Estive aqui enquanto pudeSeis anos de limiarPor mais seis, não

"and if he wants to leavethen let him leaveyou are terrifyingand strange and beautifulsomething not everyone knows how to love." warsan shire saidcorretíssimae a gente deixaafter six years of boiling water

that cool down.





sábado, 16 de janeiro de 2016

prece sem virgula

e veio correndo e derrubando tudo se enrolando em tudo fazendo bagunça tudo de uma vez ai meu deus não acaba mais e se der errado e se faltar tempo vai faltar tempo com certeza mas sabe que eu agarro essa pontinha de esperança como quem agarra a borda do rio na beira da cachoeira meu deus por favor se tem alguem ai mande ajuda eu sozinha sou muito pequena pra segurar o mundo inteiro de uma vez só a responsabilidade é grande e o céu tá escuro fechando tenho medo de tempestade e essa vai ser forte fecho os olhos abro os olhos minha mente continua a mil por hora por favor meu deus me ajude a descansar só um pouquinho mas não posso dormir senão perco o prazo ninguém conhece o caminho eu egoísta fiz tudo sozinha mas o trem tá passando mais rápido do que eu imaginava e as montanhas viraram um borrão e a janela tá cheia de água o barulho de chuva é alto mas a minha cabeça é mais e não durmo porque tenho medo


amem

sábado, 9 de agosto de 2014

Drowning

Those empty walls don't fill me, even if I'm empty too. I've been pushed to death, dizzing, floating, trying to jump without a ground where my feet can touch on. The worst place to die seems to be inside the ones that you love, the worst way is dying alive. Alone. Inside your own shell - the same shell you once buildt to protect you from all of those souls. You made it.

People don't talk while you're near. They don't look at your eyes. All of them don't even try to touch you, you've always been on fire. They don't care (you're not suppose to, also). You made it.

You're viewing everything from outside, like in a painting. Your family goes on without you. Your friends, too. While you were trying to follow the script they wrote since you're born, life happened. You completed the life schedule they wanted, but it wasn't enough. They rather share the love with the baby who never reached any point at the schedule, never earned anything by itself.

This is life.
You try to follow the rules. You're suddenly fucked up.
You try to not follow. You have nothing to loose.

At the end
You're alone
And the other side of the bridge
Ends up in the same place
Everything started

Nowhere

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MERRY CHRISTMAS


Acabou a energia.
Fosse o que fosse, deixou metade do vilarejo no escuro. Em plena véspera de natal, as luzinhas, arranjos, guirlandas, crianças brincando na neve, os programas televisivos de praxe: tudo foi substituído pelo breu. 
Não que tivesse de fato alguma importância. O único prato cheio em sua ceia de natal era o dele próprio: era o oitavo natal que passava sozinho, somente com a companhia do porta-retratos antigo que ganhara em sua última visita ao hospital. Sua mulher já não tinha cabelos (um dos terríveis efeitos da quimioterapia) e estava com uma aparência mórbida. Ambos sorriam em meio a um grupo de médicos muito, muito sérios. Todas as figuras acompanharam-no na escuridão que se seguiu, cantando a felicidade do povo lá fora no silêncio que caiu sobre a casa.
“Minha mulher fazia mais barulho que todas as crianças deste lugar juntas”. 
Era uma mulher espirituosa, como diriam os vizinhos. Ayra escolhera seu companheiro quando pequena, eram colegas de classe e, assim, permaneceram juntos durante muito tempo. Fazia piadas, ria de tudo, a seriedade só vinha de tempos em tempos e, mesmo assim, aparecia em parcelas. Realizaram os planos de viajar pelo mundo juntos, tiveram um cachorro, plantaram uma árvore, não conseguiram ter um filho por questões óbvias. Além de esposa, também era melhor amiga, por isso o rombo no coração de Charlie quando ela partiu. Ele colecionava os objetos dela, guardando-os todos numa caixinha de joias bordô: sua corrente preferida, uma fita de cetim (mesmo após insistências, Ayra nunca deixou de usá-la para prender seus cabelos) e um frasco vazio.
           “Ainda consigo sentir o perfume dela quando a saudade aperta”.
E estava acontecendo de novo. Geralmente antes de dormir, depois da oração rotineira, sua mulher ainda se fazia presente no quarto. Às vezes sonhava com ela. Acordava no meio da noite com a garganta seca, desnorteado, procurando o amor pela casa inteira, só parava quando, sem querer, olhava pela janela e deparava a cruz que fizera no jardim em homenagem à Ayra: esse era o maior problema do natal. A nostalgia o tirava do mundo e o mundo o deixava triste quando voltava à vida. 
A energia voltou. 
O ambiente em que se encontrava já não era mais o mesmo, estava totalmente diferente. Já havia abandonado a sala de jantar e, depois do que pareceram muitas horas de transe, encontrava-se sentado em sua cama. Do lado direito, perto da parede, viu-se no que parecia um sono profundo, com um laço bordô no lugar onde estivera sua aliança de casado e a corrente de ouro no pescoço. Já não sentia mais as dores da velhice, nem mesmo as dores do coração. Do lado esquerdo, parada junto à porta, podia-se ver uma silhueta. A sombra moveu-se em direção à sala de estar. O senhor deixou-se deitado no quarto e correu para o lugar onde se encontrava sua árvore de natal.
A estrela no topo, que não acendia desde a tragédia, estava brilhando e despejando uma luz amarela sobre tudo. A sensação era de aconchego total. Ayra estava parada, com as mãos estendidas, indicando a ponta mais alta do objeto: de mãos dadas, então, moveram-se em direção ao topo. O mundo inteiro estava chorando junto com Charlie, que irradiava felicidade no reencontro. Como última lembrança do plano real, levou consigo todo o amor que guardou durante sua vida ao lado da mulher que jazia do lado de fora.
No fim, tudo valeu a pena para os dois. Quando a notícia da morte de Charlie chegou aos habitantes do vilarejo, houve comoção geral. E todas as casas, na noite de 24 de dezembro, recebiam a visita de uma luz muito forte com um suave cheiro de baunilha, e... aconchegante.

sábado, 30 de junho de 2012

Our lego house


      Hoje eu fui visitar nossa aroeira, sozinha. O dia tava lindo. Levei meu livro e fiz um pequeno tour pelos nossos pontos, até fixar meu lugar no principal. Já parou pra pensar que a gente tá quase completando duas primaveras? E eu, que nunca achei que embaçaria os olhos de novo, vi que talvez a gente esteja em um outono particular. O que caiu, além da cor? Fui espairecer embaixo da nossa árvore, rodeada de turistas apaixonados, e fiquei esperando um sinal, um qualquer-coisa que respondesse a ausência. Nada. Inconscientemente torci pra te encontrar no caminho, talvez perdido, talvez escondido, talvez também esperando um quase-nada de arco-íris. Criei milhões de perguntas, inúmeras justificativas, situações, talvez. É difícil enxergar dentro quando tem muita água tampando a vista de fora. Fui sem ninguém, voltei sem sair do nosso cantinho.


Busca?

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Dear John

Teu livro ainda tá aqui na minha cabeceira. Deve ser um dos únicos romances que fazem parte da estante, sabia? Tenho problema com romances. Não engulo finaizinhos felizes, amores melodramáticos, aquelas sinopses que tu já conhece só de olhar a capa. Pra mim, casal é outra coisa. Estar junto é fazer doer. É sentir falta, saudade, atravessar a cidade pra um abraço. É brigar. Revoltar a casa. Casal que não briga, não se ama. Tem coisa melhor que se desculpar? Enquanto você lia, veio alguém na sua mente. Responda-me desta vez: quantas vezes o teu coração não explodiu de raiva no meio de uma discussão, enquanto você expunha seus argumentos e, tcharãn, um meio sorriso cansou de se esconder e apareceu ali no rosto de quem não baixava a guarda? É. A gente sabe que não é fácil. Mais difícil que isso, só engolir o sol de acordar feliz. A inveja tem sono leve. A inveja tem nome e endereço, cabelo bonito e corpo escultural. Lamento, aliás, quem conhece uma inveja com Tim Infinity. E não é ciúme, não. Medo de perder é bem maior que essa palavrinha escrota e banalizada, eu tenho mesmo é paciência, meu filho! Pra quem acha que é fácil aguentar mau humor, piriguete, bipolaridade, nervosismo e carência, tô aqui, vivinha e pronta pra partilhar as minhas crônicas. Sabe do que mais? Pior que grude, é ausência. Bate um desespero quando a gente começa a perceber que o outro não precisa tanto assim da gente. Já falei, repeti, fiz plaquinha e colei na porta: não gosto de gente melosa. Não gosto de flores, mas caio de amores se o meu menino me chamar de pequena, me pegar no colo e jurar que nunca mais vai embora.
Harry Potter - Golden Snitch