segunda-feira, 27 de junho de 2011
Ele sabe.
Deitado no sofá, o rosto dela ainda brilhando. Dentre o ritual de preparar-se para dormir e organizar os pensamentos, já havia se passado quase duas horas. Minutos, esses, recheados de dúvida, de vontade de enxergar a parte só visível ao coração. Todas as vezes que lhe perguntam sobre a tal, fica sem jeito. Como explicar? Parece tão... Complicado. Amar de dentro pra fora. Amar, apenas. Eles realmente se conhecem, nunca se encontraram. O sorriso dela é o mais lindo do mundo, ele diz. Apesar da distância, a convivência aconchegante entre os dois se deu por meio da voz, dos ínfimos caracteres de uma SMS. Funciona, ele garante. As vezes até chora - escondido - de necessidade. O espaço onde, supostamente, deveriam estar os dedos dela, se contorce de saudade, de vontade de sentir-se completo ao menos uma vez. Quem é que é inteiro vivendo sozinho? Se o só é o contrário de nós, o eu e você é o contrário de só, é simples. Isolando o eu, fica de lado o você e o vazio. Incrível. Agora até a matemática parece fazer algum sentido, ele pensa. E sabe. Paixão a distância dói, mas não mais que a ausência da paixão. Olha pela janela, pensa nas estrelas: que aconteceria se umas fossem a razão da existência de outras? Tão lindas, tão distantes, tão mortas. Desejou o plausível: apaixonem-se jamais. Não por alguém aqui da Terra. Ninguém consegue explodir e congelar as luzes, guardar a energia como vocês fazem... Parou, refletiu. Esqueçam, vagalumes. Existe algo que brilha mais, que é mais precioso que um punhado de vocês. Tenho esse algo comigo, mas só consigo vê-lo se fecho, dos olhos, os meus e procuro, dentre seis bilhões de pares de olhos, os seus. Adormeceu em paz, abraçando a quietude do silêncio que separava os dois, que os unia.