segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Storm


Ela chorava no canto do quarto, desolada. Brigaram. Disseram todas aquelas coisas horríveis de quem se conhece demais, pesaram a dor de quem já sentiu tudo e anda com o coração anestesiado, respiraram o silêncio de quem tem muita coisa pra falar e pouco motivo pro óbvio. Aumentaram o muro, chacoalharam o assoalho, gritaram pra quem quisesse ouvir: um tinha mais direito que o outro. A mãe era doente, o pai, adolescente. Qual seria meu rumo então? Cavar um buraco no porão, cortar a carne em orações? Fugir do mundo, fugir de mim, fugir com tudo queimando em minha cabeça e de bolsos vazios? Eles ainda acreditam que uma assinatura muda o mundo, eles ainda torcem pro trem das onze passar, pra aparecer no meio do caminho uma Boate Azul jorrando a juventude que perderam. Em meia-vida ainda não conseguiram se encontrar, quem dirá eu. Em plena guerra levo meu caderninho, minha música, minha vontade de independência. Quando nossas duas partes se quebram (entre elas, por elas, na gente, pela gente, pra gente), o jeito é se virar em Anne Frank com bíblia digital e iPod, caminhando cinza pelas ruas, escondendo na gente aquela assinatura que pode mudar o mundo.
Harry Potter - Golden Snitch